sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Depois do Ocupa Rio

Só se sabe que ele passou por lá. Ninguém sabe se foi depois que os manifestantes do Ocupa Rio desocuparam a Cinelândia ou se foi antes. Talvez tenha sido durante. O fato é que ele continua resistindo, como tantos outros que perambulam por ali. Sem teto, sem família, sem lugar para onde ir. Sem sonhos. Apenas mais um andarilho vivendo à margem da sociedade de consumo.




segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

opiniões do público

Oi,
Me chamo Joice e vi a matéria que o Brasil de Fato fez sobre o álbum Nowhereman. Moro em Santa Maria/RS e trabalho em uma escola da periferia da cidade, àrea onde há uma ocupação urbana. Várias crianças que moram na área da ocupação estudam na escola, e por isso tenho a intenção de trabalhar a questão da terra e da moradia no contexto urbano com essas crianças, que, mesmo em uma situação diferente daqueles que estão em Nowhereman, acabam se tornando invisíveis pela condição em que vivem. Gostaria de mostrar o teu trabalho para as crianças e montar alguma atividade baseada nele. Como faço para consegui-lo?
Obrigada,
Joice Zorzi

01/08/2011


Olá Rubens,
Meu nome é João Pires, sou funcionário da Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo, SP, e gostaria, primeiro lugar, de parabenizar seu trabalho "Nowhereman", que realiza algo que acredito como central para o artista e a arte, qual seja, de buscar refletir e intervir na realidade cotidiana, ou seja, uma propositura que busca a alteração do simbólico. Isso posto, gostaria de consultá-lo sobre a possibilidade de viabilizarmos a execução da proposta aqui em nossa cidade, pois a atual administração do município de iniciou uma série de ações para a Redução de Danos e para a População de Rua e esta intervenção seria de grande importância para seu fortalecimento no sentido de efetivação de uma Política Pública para este setor.
no aguardo de seu retorno
João Pires

12/07/2011


Olá Rubens, tudo bem?
O material chegou hoje pela manhã e só confirmou a minha expectativa, além de causar grande impressão ao restante da equipe da SC. Em breve voltamos a conversar.
abração

João Pires
21/07/2011


Em 7 de julho de 2011 11:46, sheilla souza <artesheilla@yahoo.com.br> escreveu:



Oi Rubens, como está por aí? ADOREI O ALBUM DE FIGURINHAS!!!!!!!!!!
EM SETEMBRO TEMOS A SEMANA DE ARTE DA UEM, NÃO SEI SE VC ACHA VIÁVEL, MAS SE QUISER DARIA PRA EXPOR O TRABALHO.
Aqui estamos inventando espaços. Fizemos uma reunião de artistas plásticos e estamos com muitas idéias. Inventamos uma galeria: Arte a Vista. No espaço ao lado da biblioteca municipal.Acabou se transformando em uma galeria mesmo! Tem uma matéria no site do O diário (jornal ).
Preparei uma instalação pro Rumos, são 13 vestidos kaingang com audio delas conversando e uma foto de uma delas perto da mata. Queria saber se vc acha possível rolar um espaço por aí para expor.
Também queria saber sua opinião sobre a instalação.
Se abrir o arquivo em mp4 e a foto já dá pra ter uma noção.
Beijo grande!
Sheilla


Caro Rubens,

Estamos desenvolvendo aqui em maceió o www.jornaldarua.org.br , ele estará na rede a partir do dia 01 de julho, achei seu projeto interessante e gostaria de um exemplar para fazermos um trabalho com nossos moradores de rua.
caso seja possível ficamos agradecidos, obrigado pela atenção.

Jose Bispo Filho

26/06/2011


Rubens,


parabéns pelo trabalho.
Pena que não pude ver tua exposição no Rio, espero ter novas oportunidades.
Te escrevo pois quero um álbum e figurinhas.
Como fazemos?

Beijos,

Fernanda Magalhães

25/07/2011



Tomamos conhecimento de sua exposição Só sonha quem dorme e ficamos encantados com a possibilidade de trazê-la para o CCULT em 2012. O CCULT é o Centro Cultural da UNISUAM – uma instituição de ensino superior com mais de 25 mil alunos, doze mil só na nossa unidade, que é a maior e fica em Bonsucesso. Temos cursos de Desenvolvimento Local, Assistência Social, Comunicação, Direito e vários outros que os alunos certamente adorariam ter contato com seu projeto. Além de achar importante aproximar os alunos de um tema normalmente rejeitado pela sociedade, tenho um interesse pessoal sobre oassunto.
Poderíamos fazer uma palestra com eles e com você aqui no CCULT. O que acha? Bem, nosso espaço é gratuito. Todos os que expõem aqui ganham as fotos tiradas no evento. Quando a TV UNISUAM faz cobertura, damos a reportagem em DVD. E toda divulgação interna e externa é feita pelo Departamento de Comunicação da UNISUAM. O que sair na imprensa, passo para os expositores. Assim, temos conseguido trazer exposições organizadas pela LAMSA, pela FIOCRUZ, dentre outros; temos recebido personalidades, como o príncipe Dom João de Orleans e Bragança, O imortal Evanildo Bechara, o escritor Joel Rufino dos Santos, a professora e escritora Tania Zagury e outros mais. Até peças de teatro estamos trazendo para a UNISUAM. Dê uma olhada no nosso site para conhecer um pouco de nossa história. Agora queremos você aqui conosco fazendo parte dela. Então, venha nos conhecer, conhecer o nosso espaço. Tenha certeza de que vai ser muito bem recebido. Um grande abraço e até breve. Cintia Neves e equipe.
CCULT - Centro Cultural Unisuam (21) 3882-9917 Gestora - Profª Cíntia Neves (21) 8152-2649Mariane Alves - Aux.Administrativo (21) 9937-3833Diego Robert - Aux. Administrativo.UNISUAM - Centro Universitário Augusto Motta.COMPROMISSO PARA A VIDA TODA.

22/06/2011


splash deixou um novo comentário sobre a sua postagem "PEDIDOS":

Olá!! comecei a colecionar hoje e adorei! preciso de novas figurinhas mas não sei onde achar e ainda tenho uma repetida! o que eu faço? Beijo!

20/06/2011



Olá Rubens, tudo bem?
Tive a oportunidade de conhecer o álbum NOWHEREMAN, dei uma conferida no blog e fiquei muito interessada em fazer uma matéria sobre esse projeto. Sou repórter com passagem por alguns dos principais jornais impressos do Rio, mas há algum tempo optei pro trabalhar como freelancer. Faço matérias para revistas e outros trabalhos de comunicação. A minha ideia inicial é bater um papo informal com você para saber toda a ideia e montar uma pauta para oferecer à revista Piaui. Acho que tem tudo a ver com a linha editorial deles.
Você topa?
Se puder, me passe um telefone para contato. Assim, podemos marcar um encontro.
Grande abraço.
--

Anna Luiza Guimarães
Jornalista

03/06/2011





Olá Rubens,
Não nos conhecemos, mas estou encantada com o seu trabalho do album de figurinhas. Sou mãe da Pilar Rocha, foi ela quem me apresentou o album.
É lindo. Dar visibilidade as diferentes formas de vidas, a vida em invenção o tempo todo, com suas crenças, desejos, sofrimentos e sonhos, se ocupar disso na sua arte é muito legal!
Quero alguns, para mim e para dá de presente.
Rubens, gostaria muito de fazer uma conversa com vc, gostria de conhecê-lo, se vc topar. Estou participando de uma pesquisa em saúde mental, aqui no rio, cujo o foco é traçar o nomadismo do usário da rede do CAP( centro de atenção psicossocial) em sua diferentes formas de produção de vida.
Agradeço a sua atenção.
Um grande abraço,
Monica Rocha


De: Monica Rocha <monicarochaufrj@gmail.com>
Data: 27 de agosto de 2011 12:37
Assunto: sobre o album de figurinhas
Para: pileggisa@gmail.com




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos (Manoel de Barros via Mar Aires)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

LANÇAMENTO NO PLANO B

O Espaço Cultural Plano B, na Lapa, lança, dia 12 de novembro, com troca de figurinha e jogo de bafo, o álbum de cromos Nowhereman,  que trata de exclusão e mobilidade social na cidade do Rio de Janeiro.
O álbum, que faz parte do projeto Cromo Sapiens, contemplado com bolsa do programa de incentivo à arte da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, teve início em 2009 a partir de 30 entrevistas, feitas pelo artista, com andarilhos e moradores de rua que transitam pelo centro, Lapa e Largo da Carioca. Nessas entrevistas, registradas em vídeo e fotos, as perguntas giraram em torno de lembranças e sonhos na vida.
“Com esse material em mãos”, conta Rubens, “desenvolvi o protótipo do álbum, ilustrando suas páginas com detalhes de apartamentos e moradias, classificados com preços de imóveis, espaços culturais e de lazer do centro da cidade. E as figurinhas a serem coladas nessas páginas são as fotos das pessoas entrevistadas”. Como em todo álbum de figurinhas que se preze, há aquelas mais difíceis e outras mais fáceis, sendo que a de número 13 é a do andarilho que “de tão perdido, confundiu as páginas do álbum onde ele deveria estar, com as paredes e muros da cidade”, releva o artista. Assim, se você se deparar com a imagem de um homem com um saco nas costas, andando pela cidade, muita atenção, ele pode ser o elo perdido entre a ficção e a realidade cruel dos fatos

terça-feira, 13 de setembro de 2011

NOWHEREMAN na feira da Praça XV

     foto: Dama de Ouros
O álbum de figurinhas NOWHEREMAN encontra-se em muito boa companhia ao lado de outros álbuns de figurinhas, na banca da colecionadora Leila, na Praça XV, bem atrás do Paço Imperial, aos sábados, das 9 até às 13 horas. Passe lá, adquira seu álbum e leve as figurinhas para colecionar!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

BANCA DO LARGO DA CARIOCA

Para COMPLETAR SEU ÁLBUM DE FIGURINHAS NOWHEREMAN
(entre o largo da carioca e rua almirante barroso. do lado do passante, do Zé Rezende. no lugar mais central do RJ)



quarta-feira, 6 de julho de 2011

FÓRMULA PARA FAZER UM ÁLBUM EM SUA CIDADE/REGIÃO

Se alguém ou alguma instituição de arte ou de apoio social, sem fins lucrativos, quiser fazer um álbum de figurinhas parecido com NOWHEREMAN, em primeiro lugar, peça seu exemplar, que o mesmo poderá ser remetido pelo correio. Depois disso, entre em contato para irmos afinando o conceito e para pensar como o mesmo poderia ser adaptado à sua realidade.
Ele pode ser copiado inteiro ou em parte, desde que os fins sejam culturais, artísticos ou educacionas e entre no álbum um texto dizendo que o mesmo foi realizado com base no álbum NOWHEREMAN, de Rubens Pileggi Sá, com entrevistas e fotos com moradores de rua do centro da cidade do Rio de Janeiro, entre 2009 e 2011 e tendo como patrocinador a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.
Além disso, adoraria receber um convite para ir para o lançamento do álbum de figurinhas.
Também tenho um projeto pronto para produzir o álbum em sua região/cidade, se acaso forem cobertos os custos de produção, pesquisa, fotos, hospedagem, transporte e impressão.

terça-feira, 5 de julho de 2011

SÓ SONHA QUEM DORME despede-se do }}

A OBRAOBRA SÓ SONHA QUEM DORME ,   DE RUBENS PILEGGI SÁ,
 EXPOSTA NO
MUSEU DO MUNDO,
NESTA SEXTA-FEIRA PRÓXIMA, DIA 18 DE JULHO, DAS 19 ÀS 22 HORAS ,
ESTARÁ RECEBENDO OS AMIGOS DA ARTE
(NOME SEMELHANTE AO DOS AMIGOS DO SABER,
 PARA  ENCONTRO COM VINHO E DEBATE    ACERCA DO TEMA  
CRIMES DA ARTE OU O CRIME DO ARTISTA PLÁSTICO-VISUAL
( TÍTULO EM ACORDO COM O TRATADO DE ÉTICA DE CLARICE LISPECTOR:
O CRIME DO PROFESSOR DE MATEMATICA).

 NESTA SEXTA DE ENCERRAMENTO, PENSADORES E ARTISTAS EXAMINARÃO, COM
SEUS ARGUMENTOS DE VIDA E  EXISTÊNCIA INTENSIVAS, AS FORÇAS DE ORDEM
POLÍTICA QUE ENVOLVEM A DISTÂNCIA, A PROXIMIDADE, O AMOR E O MEDO, A
ESTRANHEZA, A DEFESA, A VIOLÊNCIA E O RISCO DE TRAZER À CENA O OUTRO.

E A
PERGUNTA:
O QUE AQUELE, O OUTRO, AFIRMA E QUER?
___________________________________________________________________________________
                                                                      
} }
MUSEU DO MUNDO
Entrada pela RUA Visconde de Pirajá, 111
IPANEMA RIO DE JANEIRO BRASIL
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
:: Site Específico ::
Galeria de Artista ::: Terreno de Acompanhamento Artístico e Universitário :: Vitrine de Arte :: Editora Nômade :: Instalação Permanente :: Área de Tudo à Venda ::  Instituto de Alto Estudo :: Atelier de Força Intensiva :: Parlatório Real 
:: Clínica de Artista ::

ROBERTO CORRÊA DOS SANTOSPRESIDENTE

quarta-feira, 22 de junho de 2011

No álbum, figura a rua

A experiência de Nowhereman,
o livro-objeto e
a inserção da obra
nos circuitos ideológicos.

Rafaela Tasca


Esquivei-me várias vezes do abrir o pacote de figurinhas que o artista me enviou. Havia em mim ruídos de medo e desconcerto frente à proposição artística de Nowhereman, pois sabia exigir minha ativação para se completar. Preparei-me para iniciar a ação sobre o objeto e, ao fim do primeiro movimento de abrir e colar figurinhas nos espaços do álbum, fui tomada pela sensação de imersão em um jogo.

Entretanto, Nowhereman vai além da experiência do colecionismo e do lúdico, possibilitada por sua forma “álbum de figurinhas adesivas”. Nowhereman é livro-objeto. É expansão do espaço de arte. É exposição fotográfica itinerante. Um museu-miniatura. Um álbum-tabuleiro. Uma maquete-livro. Um não-objeto[i]. Uma intervenção urbana.  

Criado pelo artista Rubens Pileggi como parte da exposição Cromo Sapiens[1], Nowhereman assume o formato clássico de álbum. Com dimensões de 20x18 cm, contém 27 páginas, em papel couchè e sulfite de gramatura média, a serem preenchidas com 42 fotografias de moradores de rua do centro carioca. Cada figurinha, ou cromo, tem 6,5 x 8,5 cm, fornecida dentro de pacotes lacrados. Em alguns cromos, há trechos da fala do retratado. Na página, eles podem ser afixadas sobre o texto de anúncios imobiliários do centro do Rio. Ou, ao lado da planta baixa de um apartamento. A cada retratado é dada a referência de nome, idade, procedência, tempo como morador, dia e local da “abordagem”.

Fruto da pesquisa do artista com mendigos da região central do Rio de Janeiro, Nowhereman se propõe a uma reforma urbana simbólica que contemple estes “homens e mulheres sem onde, resumidos a um aqui e agora sem esperanças.”, como escreve na apresentação de sua proposta.

Para tal, o artista se vale de um formato tradicional de colecionismo que se dá através de figuras adesivas das mais variadas temáticas, em sua maioria ancoradas nos ideais de herói, dos objetos de consumo venerados ou do ilustre inalcançável. Pileggi também se apropria de um fenômeno editorial brasileiro recente, ocorrido durante a Copa de 2010, quando o conglomerado multinacional Panini lançou um álbum de figurinhas com os jogadores das seleções participantes da competição mundial. Posto que o futebol é febre nacional, as figurinhas igualmente assim foram. Assim, pleno de uma intenção que absorve o formato popular e interativo da natureza dos álbuns, o artista atua às avessas, em outra esfera social, em uma vertente de contra-informação.

O gesto ousado de Pileggi sedimenta um trabalho de arte que opera na fusão de mercadoria e arte, com ênfase no consumo de um objeto pelo público; parte essencial de seu projeto artístico. Em Nowhereman, o artista destitui a metáfora[ii] e acopla à sua proposição a noção de circuito e circulação de informações, nos moldes adotados por Cildo Meireles em Inserções em Circuitos Ideológicos (1970) e Elemento Desaparecendo/ Elemento Desaparecido (2002).

A exemplo da fabricação e comercialização dos picolés proposta por Cildo em Kassel[2], Pileggi também cria um aparato de distribuição de seu produto, o álbum e as figurinhas, que podem ser adquiridos – ou trocadas - em espaços da capital fluminense (uma banca, uma galeria e um museu), ou solicitados para postagem através de email e contato telefônico. Portanto, cria por meio de um impresso industrial, de reprodução e circulação massiva, uma “estratégia de visibilidade” que usa da noção de circuito para dar materialidade e sentido a seu trabalho.

Interessante pensar que Pileggi também é poeta, crítico de arte e escritor. Uma atuação que remonta à familiaridade do artista com o objeto livro, formato de expressiva aparição na arte brasileira, sobremaneira entre os concretos e neoconcretos que tensionaram, por vezes dissolveram, as fronteiras entre artes visuais e literatura. Vide Ferreira Gullar que ao tecer sua análise sobre a obra Bichos de Ligia Clark aponta que o início da participação do espectador nas obras de arte teria origem no livro, “por definição um objeto manuseável[3]”. Neste sentido, Nowhereman passa a uma atuação também no campo do objeto escultórico, embricado ao alargamento conceitual do formato livro impulsionado por Haroldo e Augusto de Campos (Poemóbiles), Ferreira Gullar (Poemas Espaciais), Waltércio Caldas (O Colecionador, Aparelhos, Livro Velásquez e Manual da Ciência Popular)  e, também, de Artur Barrio (Cadernos-Livros e Livro de Carne).

Por fim, Nowhereman segue o curto-circuito das fronteiras e tensionamentos da arte, vida e ação política. E, ao inverter o espelho dos ícones sociais e expor os cão sem plumas[iii] da urbe, o projeto artístico de Pileggi trabalha é com a pólvora, mesmo.




REFERÊNCIAS

ANJOS, Moacir dos. Cildo Meireles: A poesia e a indústria. In: Revista do Programa de Artes Visuais, UERJ, 2004.
GULLAR, Ferreira. Teoria do Não-Objeto. In: Experiência Neoconcreta: momento-limite. São Paulo. Cosac Naify, 2007.
MEIRELLES, Cildo. Depoimento sobre Inserção nos Circuitos Ideológicos. Revista Bravo. Julho/2006.
NETO, João Cabral de Melo. O cão sem plumas. Editora Nova Fronteira, 1984.



[1] O Projeto Cromo Sapiens, com a exposição “Só sonha quem dorme” e o álbum Nowhereman, foi apresentado no Museu do Mundo, cidade do Rio de Janeiro, em Junho de 2011. Blog da exposição: http://figurinhasnowhereman.blogspot.com
[2]Elemento Desaparecendo/Elemento Desaparecido consistiu da instalação temporária, coordenada pelo artista, de uma pequena fábrica de picolés em Kassel (incluindo a criação de uma logomarca para a empresa, a aquisição de equipamentos e insumos, e o estabelecimento de relações contratuais com fornecedores e funcionários) e da venda de sua produção em diversos carrinhos que circularam, durante todo o tempo de funcionamento da mostra, nos espaços públicos da cidade.” (ANJOS, Moacir)

[3] “(...) de fato, a origem da participação do espectador na obra não poderia ter sido mais natural e simples: nasceu do livro que é por definição um objeto manuseável.” (GULLAR, Ferreira)


[i]  “Diante do espectador, o não-objeto apresenta-se como inconcluso e lhe oferece os meios de ser concluído.  O espectador age, mas o tempo de sua ação não flui, não transcende a obra, não se perde além dela: incorpora-se a ela, e dura. A ação não consome a obra, mas a enriquece: depois da ação, a obra é mais que antes – e essa segunda contemplação já contém, além da  forma vista pela primeira vez, um passado em que o espectador e a obra se fundiram: ele verteu nela o seu tempo. O não-objeto reclama o espectador (trata-se ainda de espectador?), não como testemunha passiva de sua existência, mas como condição mesma de fazer-se. Sem ele, a obra existe apenas em potência, à espera do gesto humano que a atualize.” ( GULLAR, Ferreira. Teoria do Não Objeto.)

[ii]Enquanto o museu, a galeria, a tela, forem um espaço sagrado da representação, tornam-se um Triângulo das Bermudas: qualquer coisa, qualquer idéia que você colocar lá vai ser automaticamente neutralizada. Acho que a gente tentou prioritariamente o compromisso com o público. Não com o comprador (mercado) de arte. Mas com a platéia mesmo. Esse rosto indeterminado, o elemento mais importante dessa estrutura. De trabalhar com essa maravilhosa possibilidade que as artes plásticas oferecem, de criar para cada nova idéia uma nova linguagem para expressá-la. Trabalhar sempre com essa possibilidade de transgressão ao nível do real. Quer dizer, fazer trabalhos que não existam simplesmente no espaço consentido, consagrado, sagrado. Que não aconteçam simplesmente ao nível de uma tela, de uma superfície, de uma representação. Não mais trabalhar com a metáfora da pólvora- trabalhar com a pólvora mesmo.” (MEIRELES, Cildo)

[iii] Célebre poema de João Cabral de Melo Neto sobre o Rio Capibaribe e a miséria que acometia os habitantes de suas margens. O “Cão Sem Plumas” foi publicado pela primeira vez em 1950. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

SÓ SONHA QUEM DORME no Museu do Mundo

SÓ SONHA QUEM DORME no Museu do Mundo
Abertura, 17/06/2011















créditos: Roosivelt Pinheiro, Chico Fernandes, Jean Decherry, Rubens Pileggi, Pedro Moreira Lima

+ fotos no álbum de fotos:
https://picasaweb.google.com/pileggisa/SOSONHAQUEMDORMENoMuseuDoMundo?authkey=Gv1sRgCICD8p37gfioJg

X - ação de arte

Evento realizado em um apartamento na Praia do Flamengo, cujo título, CONTRABANDO, me sugeriu traficar um morador de rua para ficar abrigado e dormir, se quisesse, durante os dias da exposição.
10/06/2011



domingo, 12 de junho de 2011

LUIZ CARLOS MARQUES DA SILVA

"e, apontando com o dedo, ele me falava de um lugar chamado o fundo do poço. um lugar sem lugar, porque, aonde quer que fosse, o fundo do poço o esperava à sua frente, e ainda o perseguia. no fundo do poço havia faca, bala, porrada, e o mais que havia, como fome, doença, trapos, era feito nos moldes da falta. quando se livrava aqui de uma delas, era para encontrá-la de novo ali, sem demora, à espera, mas tão às claras que nem emboscada havia. e ele me falava que, no fundo do poço, só havia amizade ao preço de uma guimba de cigarro, de um trago de cachaça, de uma ponta de pão mesmo que dormida, fora disso, sem um preço a ser pago, nada de amizade havia, já que a própria amizade só havia na duração do preço que a pagava, não mais do que isso. era do fundo do poço que ele me falava. e ele me falava que, no fundo do poço, era preciso manter a dignidade, manter a mente em seu devido lugar, saber apanhar sem querer revidar, saber dormir onde quer que fosse (chegando a tanto fazer se seria lá ou aqui que iria sonhar), aprender a se camuflar de fumaça, asfalto, lixo. e, com seu bafo de nicotina e tabaco, acrescentando que cada um tem sua cruz, ele, a dele, eu, a minha, ele me falava que, no fundo do poço, pouco importava a já mínima vontade, mas o único e exclusivo gesto, o de amar – ao ponto de não se sentir incomodado em ter seu fundo do poço contrabandeado para este evento na cobertura em que estávamos, onde iria dormir no chão, ao lado do artista que o trouxe, de frente para o mar, na qual, trazendo-nos o fundo do poço, ele me falava."

Alberto Pucheau

sábado, 4 de junho de 2011

Fotos de Urbano Erbiste




X = Luiz Carlos Marques da Silva e Rubens Pileggi da Silva

depoimento da artista Juliana Kase

Olá Rubens,

Aqui é a Juliana do Vitrine Efêmera. Gostei de te conhecer. Te escrevo para contar sobre da minha experiência com o seu projeto Nowheremen.
Você deve conhecer melhor do que eu as propostas de outros artistas que trabalham com o assunto dos moradores de rua. Alguns por um viés
mais estético, outros mais políticos e tantos outros realizando propostas momentâneas. Imediatamente, ao ter contato com seu projeto, confesso que
achei que se tratava de uma abordagem mais antropológica, mas ao ir colando as figurinhas no álbum, me dei conta da potência sensibilizadora da sua proposição.
Admiro o tempo que você dispendeu conversando com eles, assim como me comovo ao obrigatoriamente me ver alisando as faces das imagens que você nos oferece em close.

Seu trabalho é bem sucedido em vários momentos. Primeiro, quando você oferece a compra, a preço módico, o seu álbum, você consegue ativar um prazer pelo colecionismo
e uma recordação de infância que acredito que a maioria tenha tido. Depois, quando você propõe a tarefa de colar as figurinhas, o espectador deve empregar um certo tempo
para realizá-la e consequentemente ler as sucintas informações das legendas. É aí, na legenda, que para mim, está o ponto fundamental do seu trabalho. Enquanto muitos
artistas intentaram dar visibilidade à população de rua, você resgata os nome desses desconhecidos. Penso que o reconhecimento dessas pessoas como indivíduos, a sua singularidade, é mais eficaz que mantê-los apenas como uma massa indiferenciada.

Parabéns pelo projeto! Aguardo o cromo 13!

Abraço,

Juliana

www.julianakase.com

domingo, 29 de maio de 2011

SÓ SONHA QUEM DORME

Só sonha quem dorme: a circulação da vida infame

Só sonha quem dorme, exposição de Rubens Pileggi apresentada na Galeria Museu do mundo, aponta para a afirmação da arte como espaço da vida. Com dois trabalhos instalativos e um impresso, a exposição coleciona histórias, registros e sonhos que desfazem mais que conservam a forma do inventário. O tom aparentemente objetivo dos três trabalhos que compõe a exposição – Só sonha quem dorme, Esses olhos não são meus e Nowhereman – não materializa somente a informação sobre o mundo de “invisíveis funcionais”. Dão igualmente visibilidade à divergência no espaço público da arte. Pileggi apresenta a força da inscrição de imagens que realizadas com a perspectiva da dor do outro são transformadas por uma imaginação reflexiva. Registradas, reiteradas, deslocadas para modos de apresentação e dispositivos diferenciados, Só sonha quem dorme torna reversível o documento em sua condição de prova, pois ele expressa a vida que insiste nos espaços da cidade desamparada. Qual a importância da atividade de colecionar se o que reunimos não afirma o movimento da vida? A indigência pertence à poesia quando ela arrisca a dar brilho ao não ilustre. Estranho brilho fosco de uma poesia que se instala entre as provas da infâmia.
Os retratos, as fichas de catalogação, uma planta baixa, os registros das falas, os cartazes de rua fotografados que aparecem em Nowhereman são signos de um arquivo da infâmia que mostram sua estranha vibração, um alvoroço quieto, quase imóvel. É a vida declarada nesses signos-documentos provenientes do fundo do poço, uma vida vegetal (“a gente não ‘veve’, vegeta”) que restou dos ataques ao organismo já totalmente lesado. A celebridade não está na miséria mostrada, mas na luz que os trabalhos refletem diretamente em nossas vistas. Aqui aparece a engenhosa vivacidade que a obra de arte é capaz de produzir. Em Só sonha quem dorme, Rubens Pileggi colecionou dados, estatísticas, lugares, vozes, imagens, mas sua sensibilidade para o problema social não faz dele um sociólogo. A arte tem sua argúcia própria. É com essa máquina sutil que o pensamento poético se produz e transforma o homem vil em célebre artífice de uma vida possível.
Anunciando a falta de acesso à moradia nas grandes cidades através de “figurinhas” de mendigos, indigentes, desvalidos, Só sonha quem dorme cria um espaço de estranhamento para a arte, o objeto de arte e seu valor de coleção. Esses trabalhos forçam, à visibilidade e à escuta, a imagem e a voz do abandono. Através da estratégia divertida, do passatempo inocente com as figurinhas colecionadas, o impresso Nowhereman de Rubens Pileggi produz um jogo imune a perigos, mas não sem uma dose de crueldade. Outros trabalhos impressos de artistas já investiram na chave da circulação democrática da produção simbólica. Arte Classificada, da dupla Paulo Bruscky e Paulo Santiago, contrapôs a simples informação dos meios de comunicação à forma do atentado poético. Cédula - Zero cruzeiro (Inserções em Circuitos Ideológicos), de Cildo Meireles, uniu a reprodução e a circulação massiva, estratégias do impresso industrial, à questão do valor no sistema de arte. Pileggi articula sua coleção de figurinhas indignas ao ambiente da arte através da multiplicação que retira o valor de objeto único, mas aumenta o vigor da audácia. A grande aposta não é a bolsa de valores, mas o poder da vergonha. O artista arrisca na jogada da circulação democrática do ultraje que, silenciado nas sombras da cidade, pode agora espalhar-se nas mãos de qualquer um. A miséria não é aqui digna de lástima ou pena. Não há nenhum tom de lamentação nesse trabalho engenhoso de Pileggi, ainda que o infortúnio social seja tema de sua angústia artística. Do jogo inocente, resta a potência da visibilidade que atordoa. Afinal, que lugar tem esses esmoleiros, esses sem teto, no ambiente fino da arte? Fantasmas ou pessoas? A imagem manuseada invalida a inocência da atividade. É a voz do mendigo que afirma: “só sonha quem dorme”. Podemos sonhar porque diante da injúria dormimos. A vigília, entretanto, é o que nos resta depois de manusearmos as figurinhas de NOWHEREMAN. Suas imagens e frases, as indicações dos lugares, as estatísticas são provas da indigência, mas acima de tudo esses documentos exprimem a sobrevida que subsiste nos destroços.

Luiz Cláudio da Costa

RELEASE

 
SÓ SONHA QUEM DORME
                          ABRE NOVO ESPAÇO DE ARTE EM IPANEMA

A galeria Museu do Mundo inaugura dia 17 de junho com troca de figurinha, jogo de bafo e distribuição do álbum Nowhereman, obra do artista Rubens Pileggi Sá que assina a exposição Só sonha quem dorme. Além do álbum, a exposição reúne painéis e instalações que fazem parte do projeto Cromo Sapiens que trata de exclusão e mobilidade social na cidade do Rio de Janeiro.
O projeto Cromo Sapiens, contemplado com bolsa do programa de incentivo à arte da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, teve início em 2009 a partir de 30 entrevistas, feitas pelo artista, com andarilhos e moradores de rua que transitam pelo centro, Lapa e Largo da Carioca. Nessas entrevistas, registradas em vídeo e fotos, as perguntas giraram em torno de lembranças e sonhos na vida.
“Com esse material em mãos”, conta Rubens, “desenvolvi o protótipo de um álbum de figurinhas intitulado Nowhereman, onde as páginas do álbum são ilustradas com detalhes de apartamentos e moradias, preços de imóveis e espaços culturais e de lazer do centro da cidade. E as figurinhas a serem coladas nessas páginas são as fotos das pessoas entrevistadas. Da experiência com esse álbum foram surgindo outros trabalhos e peças artísticas que, no conjunto, formam a exposição que dei o nome de Só sonha quem dorme”, explica o artista.
A exposição Só sonha quem dorme  inaugura o Museu do Mundo, novo espaço de cultura que, além de abrigar exposições de arte contemporânea, vai funcionar como local de cursos, palestras, venda de livros e objetos de arte. Segundo o artista e teórico de arte Roberto Corrêa dos Santos, diretor do Museu do Mundo, “a dinâmica do espaço, baseada na proposta de arte do artista belga Broodthaers, tem por objetivo catalisar e ajudar a fazer circular parte da ampla diversidade cultural e artística contemporânea na cidade”.


Exposição: SÓ SONHA QUEM DORME
De: Rubens Pileggi Sá
Inauguração: 17 de junho – Sexta – 19h às 22h, até 08 de julho
Local: MUSEU DO MUNDO
Rua Visconde de Pirajá, 111 – Ipanema
Telefone: 7207-0326

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pelas ruas da Lapa...





Dizem que foi visto andando por aí... só nos pacotinhos de figurinhas saberemos de suas pistas...